Debates
Anistia e redução das penas de ligados ao 8/1
Da Redação | 21 de maio de 2025 - 00:52

Por Ives Gandra da Silva Martins
Os principais jornais do país noticiam a busca por uma
solução no caso dos baderneiros implicados nos atos de 8 de janeiro e que
envolve articulações com ministros do Supremo Tribunal Federal visando amenizar
as penas. Simultaneamente, há o pedido de discussão de um projeto de lei que
anistia os responsáveis pela baderna. De acordo com os jornais, os ministros do
Supremo Tribunal Federal estão sendo consultados e concordam com a redução das
penas.
Destaco, mais uma vez, que durante o mandato do então
presidente Michel Temer, houve idêntica baderna na Câmara dos Deputados,
promovida por integrantes do PT e do MST, que alegavam ter o Congresso
articulado um golpe contra a presidente Dilma Rousseff, sendo o pretexto
equivocado, visto que o impeachment seguiu estritamente os artigos 85 e 86 da
Constituição. Temer encerrou aquela invasão ao Legislativo, que teve destruição
de algumas de suas dependências, em duas horas, e, dois dias depois, todos os manifestantes
já estavam na rua. Ninguém permaneceu preso, porque ele se recordou da atitude
do ex-presidente Juscelino Kubitschek nas revoltas de Aragarças e Jacareacanga,
estas sim, tentativas de golpe de Estado com militares chegando a conquistar
importante cidade no norte do país.
O que me impressiona é a informação de que será apresentado
um projeto que, para ser viabilizado, demandará uma redução substancial das
penas. Se o Supremo Tribunal Federal está sendo consultado e, conforme
noticiado, concorda com essa abordagem – ressalto que apenas reproduzo o que a
imprensa divulga –, por que a iniciativa não pode partir do próprio Pretório
Excelso?
Tenho insistido, em meus artigos e nas redes sociais, que se
a iniciativa de reduzir substancialmente as penas – considerando, inclusive, o
tempo de prisão desde 8 de janeiro, portanto, há quase dois anos e meio –
partisse do próprio Supremo Tribunal Federal, o caminho mais adequado seria ele
mesmo reexaminar cada caso e declarar que a pena já foi cumprida.
Se a Corte maior do país tomasse a iniciativa de revisar sua
decisão – seja por um ato próprio ou provocado por um advogado –, em vez de
depender do Congresso, retomaria o controle da situação e, evidentemente,
ganharia, uma percepção junto à população de que não está alimentando e
realimentando o radicalismo no Brasil.
Enquanto mantivermos condenações de 14, 15, 16 anos para os
envolvidos nos atos de vandalismo de 8 de janeiro, contrastando com aquelas
para assassinos, traficantes e corruptos que permanecem soltos, a imagem do
Supremo será inevitavelmente retratada negativamente pelas pesquisas, distante
da reputação que o maior sodalício julgador da nação possuía na época de
ministros como Moreira Alves, ou mesmo em relação a toda a sua história.
Evidentemente, eu gostaria que ocorresse a anistia. No
entanto, caso um gesto nesse sentido não parta do Congresso, com quem as
negociações ocorrem, torna-se crucial analisar os termos propostos. A intenção
seria uma anistia ampla, que abrangesse tanto aqueles que se pretende condenar
quanto os já condenados, para que o episódio seja considerado totalmente
encerrado. Desse modo, teríamos, evidentemente, a possibilidade de um caminho
para a pacificação.
Entretanto, quanto à redução de penas, outra alternativa,
tem sido ela objeto de consultas aos Ministros do STF, que, de acordo com os
jornais, com ela concordam.
Gostaria, portanto, que o próprio Supremo Tribunal Federal
antecie a iniciativa que, conforme noticiado, será do Congresso Nacional
com o aval daquela Corte. Isso permitiria resgatar a imagem do STF que, como
advogado há 68 anos, desde minha primeira sustentação oral em 1962 ou 1963,
sempre defendi e lutei para preservar.
Enfim, aos 90 anos, reitero este sonho aos amigos: de o
Pretório Excelso recuperar sua imagem perante aqueles que discordam das penas
aplicadas aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, consideradas mais severas
que as impostas a traficantes, corruptos e assassinos. A concretização desse
sonho é essencial para alcançarmos a pacificação nacional, condição fundamental
para que o Brasil volte a ser um país pacificado na rota para o
desenvolvimento.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região